58. Bom gosto, sempre; ostentação, não!


Se tem algo que preocupa hoje na vida pastoral é a cultura do feio, do mau gosto, do desmazelo, do improviso. Tudo vai acontecendo muito a toque de caixa: ministros despreparados para o culto, homilias sem nexo, igrejas feias, músicas de teor teológico duvidoso, de gosto musical nem sempre apurado... E mais: toalhas amarrotadas nos altares, vestes nem sempre limpas e bem passadas, flores murchas e tocos de velas nos altares, vozes desafinadas na cantoria, leituras mal feitas e cheias de imprecisões... Parece que vivemos um tempo em que a cultura do feio faz parte da pastoral, especialmente das liturgias.
Até dá pra entender como essa cultura foi sorrateiramente ganhando espaço em nossas comunidades eclesiais. Não foi por desmazelo ou por preguiça. No desejo de popularizar a liturgia e dar espaço aos leigos – coisa mais que urgente depois do Vaticano II –, as tarefas foram sendo entregues aos ministros não-ordenados sem nenhum preparo dos mesmos para as tarefas pastorais. Na tentativa de descentralizar a vida eclesial e ver crescer a comunidade povo de Deus, fomos cedendo espaço para a improvisação e, com ela, chegou o feio. Mais que louvável tal abertura – ainda hoje necessária! –, mas, em nome dessa abertura, não podemos justificar o mau-gosto.
Notamos que alguns presbíteros, na tentativa de ampliar a evangelização, esqueceram-se do zelo necessário para com as coisas de Deus. Zelo necessário não por pudor de pecar contra as coisas sagradas, nem por desejo de ostentar – como se Deus fosse um rei ao modo do mundo! Não, zelo pelo evangelho, cuja notícia é a mais bela que a humanidade já recebeu. Tal notícia não é condizente nem com o desmazelo, nem com o mal feito, mas coaduna-se com a beleza singela das aves do céu e os lírios do campo.
Numa paróquia onde trabalhei, um padre de zelo apostólico inquestionável fundou dezenas de comunidades. Abria uma malinha e colocava nela uma vela qualquer, uma toalha amassada, uma túnica tão amarrotada quanto a toalha, um crucifico mínimo e um conjunto de vasilhame para celebrar, e partia pelas ruas visitando as pessoas de casa em casa. Ao final da rua, abria uma mesa de bar, colocava tudo em cima e juntava o povo da rua para celebrar. Foi assim que ele arrebanhou multidões, atraiu muitos à fé, converteu muitos corações, sarou muitas almas aflitas e sem Deus. Mas, apesar de reconhecer o amor à evangelização de tal ministro, devo admitir que sua prática não favoreceu a cultura do belo. A comunidade se acostumou a celebrar de qualquer jeito. As mulheres iam de “bobinhos da D. Florinda” (do Chaves) na cabeça, os leitores eram escolhidos na hora, as flores de plástico viviam nos altares... Que assim o fosse quando o grande missionário por lá passou, tudo bem. Mas uma vez que as comunidades foram fundadas, pequenos templos foram erguidos, as pessoas já estavam agregadas, era preciso mudar o modo de celebrar a fé. Foi difícil ajudar o povo a entender isso.
Preocupa-me que a boa-nova de Jesus Cristo, tão bela e tão singela, seja transmitida de forma tão improvisada e sem nenhum cuidado estético. Não falamos certamente de estética aparente, nem de glamour e ostentação, nem de cuidados extravagantes com o culto que mais se aproximam de rubricismo e superficialidade e destoam totalmente de nossas origens cristãs. Não; falamos de cuidado, de carinho, de singeleza, de bom gosto... Seria bom que os ministros ordenados – como bons animadores das comunidades eclesiais – ajudassem os diversos agentes de pastoral a se reencantar com o reino e, a partir desse amor apaixonado, redescobrir o zelo com as coisas de Deus. Desde a liturgia – que é limpeza, preparo e bom gosto –, até a assistência aos pobres – que só é verdadeira se feita com a máxima reverência e com doação total –, tudo deve refletir nosso amor pelo evangelho e por Jesus Cristo. Um pouco de bom gosto, cuidado e capricho só pode fazer bem às nossas comunidades paroquiais. Fica aí a dica!
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