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104. O bicho papão do comunismo

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06.06.2018 | 3 minutos de leitura
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104. O bicho papão do comunismo

Nossa gente vive com medo do bicho papão do comunismo. Reforçam essa fantasia o tal segredo de Fátima, as ditas aparições de Nossa Senhora em Medjugorje, a obstinação de João Paulo II com esse tema etc. Para os menos desavisados, o comunismo está ligado ao ateísmo, à negação da fé, à perseguição dos cristãos... Alguns mais ingênuos ainda chegam a pensar que os comunistas comem criancinhas. Eu ouvia isso quando criança e tinha horror a eles. Comunista e bicho papão se identificavam. Os marxistas eram os filhos do diabo, travestidos de gente, para perseguir a fé.


O tempo passa. A vida tem seu fluxo. E, como dizia meu pai, “no balançar da carroça as abóboras se ajeitam”. Realmente se ajeitaram na minha cabeça. O bicho papão morreu; o medo se dissolveu. Basta um pouco de noção de como funcionam os poderes desse mundo e uma pitada de história para fazer esse castelo de areia ruir. Maiores demônios habitam em nós, como o egoísmo, a ganância, o carreirismo religioso, o desejo de manipular os pobres...


Tenho visto na internet, muitos cristãos repetirem os velhos jargões sobre o comunismo. Fico pasma de ver como as mentalidades não mudam, apesar das mudanças tão aceleradas da contemporaneidade. Tem até vídeos de superleigos, mais católicos que o papa, denunciando a Igreja comunista da teologia da libertação, colocando no mesmo balaio Paulo Freire, Leonardo Boff e a legião dos demônios. Ah, por favor! Bobagens também têm limites. Já passou da hora de desmistificar essas besteiras de comunismo e de marxismo na Igreja. O futuro da Igreja passa, primeiramente, pela eliminação desse obscurantismo. Com tanto desconhecimento, quem tem um mínimo de bom senso não admite criar laços de pertença com a comunidade eclesial.


Que tal quebrar o tabu e falar sobre isso nas reuniões, nas formações paroquiais e diocesanas? Que tal ensinar o povo que a filosofia de Marx não tem nada a ver com morte de criancinhas e com a negação da fé, ainda que o filósofo Marx não professasse a fé cristã? A filosofia de Marx e de tantos outros filósofos da suspeita é uma contribuição para pensar a sociedade e as organizações, inclusive a Igreja. Santo Agostinho adotou o platonismo como pressuposto de sua teologia e eclesiologia; Santo Tomás inovou assumindo o aristotelismo; a teologia moderna apoiou-se em Kant, Hegel ou nos filósofos da linguagem. A teologia da libertação, como qualquer outra teologia, buscou recursos na filosofia; no caso, na de Marx. Ainda hoje é assim. Teólogos de renome se baseiam em filósofos declaradamente ateus, como o italiano Gianni Vattimo.


E a mídia católica, que deveria ser lugar de crescimento e formação, continua gastando tempo e dinheiro com discursos absurdos. Já passou da hora de esclarecer nosso povo. Se a gente não fala, os pregadores midiáticos falam; e pior, o povo acredita. Tal é o absurdo desse medo do comunismo que até o papa Francisco, na sua exortação apostólica, Gaudete et Exsultate, precisou criticar essas bobagens, dizendo que a preocupação com os pobres não é comunismo; é fé cristã, é evangelho. Gastar tempo quebrando esses preconceitos não é perder tempo; é tarefa genuinamente cristã. Fica aí a dica!







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