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57. Reuniões de espiritualidade

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16.07.2015 | 4 minutos de leitura
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57. Reuniões de espiritualidade

Já virou quimera o tempo em que o cristão se identificava com sua ação transformadora no mundo e bastava a ele ser ator de transformações sociais. Foi um tempo bom, mas a pós-modernidade veio acompanhada da morte das grandes utopias e, hoje, nossos sonhos são bem mais tímidos. Mudar o mundo parece impossível, mas viver uma vida digna, que não seja fútil e que tenha sentido, já parece bastante bom e desafio bastante grande.


Em tempos em que a militância estava em alta, rezar parecia coisa de alienados ou de velhas beatas. Não porque não fosse bom ou necessário, mas só havia tempo para as urgências de um mundo novo a construir e desperdiçar o tempo era quase um crime com o reino que dependia de nós para ser concretizado.


Nesse corre-corre da batalha da vida, sobrou-nos pouco tempo para rezar, para meditar, para nos exercitar no trabalho diário da interioridade. A espiritualidade cristã se dava na ação militante e quem não conseguisse perceber a presença de Deus nesse afã do dia-a-dia acabava um pouco excluído da vida cristã.


Foi aí que muita gente boa botou o pé pra fora da Igreja e foi buscar um jeito de rezar e fazer comunhão com outros grupos de espiritualidade. Elas continuaram cristãs, católicas, na ação e na luta pela vida. Mas, nos intervalos dessa peleja, precisavam reabastecer e nem sempre achavam uma fonte jorrante no mundo eclesial no qual estavam inseridas. Alguns começaram a fazer meditação e relaxamento; outros foram para grupos neopentecostais louvar e ler a bíblia; teve gente que começou a encontrar espiritualidade e paz em religiões e filosofias orientais; outros encontraram seu centro em espaços nada religiosos, como grupos de terapias etc. Não é que essas coisas sejam más ou não devam ser utilizadas pelos cristãos. Admira-me, porém, que nós cristãos, cuja fé nasce do evento da ressurreição, precisemos de alguma muleta para rezar, para meditar, para interiorizar, se a presença de Deus entre nós é certeira.


Quando assisti ao filme “Comer, rezar e amar”, fiquei pensando nisso. A personagem do filme era do mundo ocidental, de tradição cristã então, mas foi aprender a rezar com os monges budistas. A fé cristã não lhe proporcionou o encontro com Deus, nem consigo mesma. Foi preciso migrar para outra cultura, outra espiritualidade, para achar seu centro, seu espaço interior onde Deus habita. Parece-me que estamos mesmo com um déficit de espiritualidade e essa dívida não se paga tão fácil. Nossa gente é cristã por herança, e fé herdada não é suficiente para promover o encontro com o Deus misericordioso e bom que habita no íntimo de nós mesmos. Ele – tão perto de nós – se torna totalmente inacessível! Certamente que ele é o Totalmente Outro, aquele que não podemos abarcar, mas – este é o mistério de amor! – ele se faz presente em cada um de nós, de forma que sua inacessibilidade é vencida por pura gratuidade. Jesus – que nos ama – está vivo e ressuscitado, presente em nós e entre nós; e isso faz toda diferença.


Nossas paróquias deveriam, pois, favorecer esse encontro com Deus, promovendo encontros, retiros, celebrações, eventos que possam trabalhar esse lado da fé cristã, a espiritualidade, dando a todos a possibilidade de desenvolver uma interioridade profunda ao modo da fé cristã. Não sou contra aqueles que, mesmo permanecendo cristãos, encontraram outro modo de rezar e meditar. Mas penso que não há nenhuma necessidade de buscar fora do espaço eclesial aquilo que é próprio da fé cristã. É tarefa das comunidades cristãs ajudar nossa gente a rezar, a meditar, a interiorizar, a desenvolver uma espiritualidade que não seja infantil ou tola. Há muitas opções hoje. Basta ter um pouco de jeito e de criatividade, um tanto de coragem, uma boa dose de música, algum traquejo com a Bíblia e ainda uma experiência cristã para partilhar, para arriscar no novo! Nossa gente agradece. Fica aí a dica!







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