106. Uma prova de fogo


“Eu vim lançar fogo na terra
e como gostaria que já estivesse aceso” (Lc 12,49)
“Abre o peito; coragem, irmão.
Faz do amor sua imagem, irmão.
Quem à vida se entrega
A sorte não nega, seu braço, seu chão...
Irmãos, é preciso coragem!”
(Paulinho Tapajós/ Nonato Buzar)
Outro dia, ao ouviras palavras de Jesus no Evangelho de Lucas: “Eu vim lançar fogo na terra e como gostaria que já estivesse aceso” (Lc 12,49), fiquei intrigado. Esse trecho do evangelho pareceu-me um dos textos mais difíceis das Sagradas Escrituras. Num primeiro momento, fiquei assustado com as palavras de Jesus, mas, relendo-o, comecei a me perguntar: Que fogo é este que Jesus diz que veio trazer à terra?
Sabemos que, desde os tempos antigos, o fogo é fundamental para a humanidade. Na agricultura, é utilizado para preparar a terra para o plantio. Na mineração, purifica os metais, especialmente o ouro. Além disso, o fogo é indispensável no processo de preparação da maior parte dos alimentos que consumimos. Ele aquece, cozinha, assa... transforma! Infelizmente, ao longo da história, o fogo também foi utilizado para o mal. Com vergonha e tristeza, lembramos de fogueiras acendidas para matar, como é o caso da Inquisição e da destruição de cidades e povos inteiros em tempos de guerra.
Na Bíblia, o fogo possui um significado especial. Para Lucas, especialmente, o fogo simboliza o Espírito Santo, capaz de transformar e renovar os corações. O evangelista descreve que, em Pentecostes, o Espírito Santo desceu sob a forma de línguas de fogo sobre a comunidade dos seguidores do Nazareno. E nunca mais eles foram os mesmos! Uma vez experimentado o fogo purificador do Espírito, a vida dos seguidores de Jesus ganhou novos contornos.
Não seria, pois, o Espírito esse fogo que Jesus veio trazer à terra? Não seria esse fogo que ele gostaria que já estivesse aceso em nossos corações? É desejo de Jesus que o fogo de Pentecostes incendeie nossos corações. Ele o faz não de um modo intimista nos fechando em nós mesmos, mas fazendo arder nossos corações, de modo semelhante ao que acontecera com os discípulos de Emaús: nos levando a assumir um compromisso verdadeiro com Jesus e o seu evangelho. Mas, para isso, temos de estar abertos... Rubem Alves utiliza uma metáfora que nos ajuda a entender isso: “milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre”. Pode acontecer de a gente não se permitir ser transformada, se recusar a mudar... permanecer para sempre piruá e nunca virar pipoca!
O encontro com Cristo nos leva a fazer uma escolha radical. Não é possível ao discípulo ficar em cima do muro. Incendiados pelo fogo de Deus, algumas vezes, nos tornamos – como disse Jesus – um sinal de divisão. É uma prova de fogo! Mas é essa a vocação do profeta e do cristão. Como diz a canção: “Comungar é tornar-se um perigo, viemos para incomodar”. Outro dia o Papa Francisco disse: “Não viemos a este mundo para vegetar num sofá, mas para deixar uma marca”. Quem dera ouvíssemos o conselho do Papa e não nos preservássemos tanto com medo de anunciar o evangelho! Mais do que com palavras, precisamos testemunhar com nossa própria vida. Um fogo interior – devorador – consume quem de fato se apaixonou por Jesus. E, através de gestos simples, o cristão incendeia o mundo: com o fogo do amor, coisa de quem, como disse Geraldo Vandré, acredita “nas flores vencendo o canhão”.
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