Evangelho DominicalVersículos Bíblicos
 
 
 
 
 

5. A oração como um pacto de amizade

Ler do Início
22.04.2014 | 5 minutos de leitura
Frei Antônio Fabiano
Crônicas
5. A oração como um pacto de amizade

“Quando vocês rezarem digam assim”... (Mt 6,9)


Falei na minha última crônica sobre amizade e verdadeiros amigos. Certamente porque sou frade carmelita descalço, gostarei muito de falar de Santa Teresa de Jesus, também conhecida como Teresa de Ávila, a grande mística espanhola do século XVI, a primeira mulher doutora da Igreja e Mãe dos espirituais. Foi ela que disse que a oração é um pacto de amizade.


Santa Teresa falou muito de oração e lutou incansavelmente para que todas as pessoas pudessem conversar com Deus. Isso é surpreendente, pois no seu tempo ensinava-se que as mulheres deveriam limitar-se a repetir orações decoradas, às quais a Santa chama de “oração vocal”. A razão de não ser desejável que as mulheres tivessem o que hoje conhecemos por “oração mental” –forma de oração mais pessoal, espontânea e afetiva – é que, segundo os preconceitos da época, as mulheres tinham a “cabeça fraca”, estariam sujeitas a muitos enganos dos “demônios” e de si mesmas.


Mas foi através de uma mulher, a humilde carmelita de quem falamos, que Deus quis dar ao mundo uma das mais encantadoras doutrinas de oração.


Ora, Teresa não só discordou das bobagens que eram ditas sobre as mulheres,como também opôs-se frontalmente a tais opiniões.Ela lembra a importância das mulheres que estiveram com Jesus, chegando a ser irônica quando aborda uma suposta incapacidade feminina de rezar. Mas diz ainda, com palavras bem duras, que é tirania impedir que as pessoas de qualquer gênero ou condição falem com Deus. Acaba por ensinar a homens e mulheres um caminho excelente de oração, reconhecido pela Igreja e fora dela.


 Sua doutrina é atualíssima e perene, porque se funda na Sagrada Escritura e na experiência mística autêntica de sua própria vida. Teresa não criou um método de oração, como alguns o fizeram, talvez porque estivesse convencida de que a oração, como qualquer relação de intimidade, extrapola esquemas, não cabe em métodos fechados. Criou um jeito–podemos chamar isso de mistagogia – de levar cada pessoa a fazer a sua própria experiência com Deus.E, ainda que possamos falar do jeito teresiano de rezar ou de “oração teresiana”, a experiência é íntima, pessoal e intransferível e só será autêntica, segundo a própria Santa, se tiver repercussões na vida comunitária, na fraternidade, no mandamento evangélico do amor ao próximo.


Em resumo: ela ensinou que todos podiam e deviam falar com Deus como a um amigo, e que,a partir desse pacto de amizade, nós podemos nos tornar pessoas melhores em nossa relação com o mundo.


Santa Teresa escreveu que a oração deve sair do coração mais que da repetição de estribilhos e altos conceitos teológicos ou dogmáticos(que a maioria das pessoas não entendia e ainda hoje tem dificuldade para entender). Porque – diz ela mais de uma vez – nem todos estão aptos para as elevadas considerações da cabeça (por melhores que sejam!), mas todas as pessoas foram feitas para o amor e são capazes de amar. É, portanto, no amor que se funda a oração da intimidade com Deus.


Teresa não conseguia entender que, para falar com alguém a quem amamos muito e que nos ama ainda mais, devêssemos nos encher de formalidades e palavras rebuscadas. E isso está de acordo com o que disse Jesus antes de nos ensinar o Pai-Nosso:“Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes mesmo de pedirdes alguma coisa a Ele” (Mt 6,7-8).


Assim escreveu a Santa, no seu Livro da Vida: “Para mim, a oração não é outra coisa senão tratar de amizade, estando muitas vezes a sós, com quem sabemos que nos ama...”.


Estar a sós significa criar a intimidade necessária para a conversa amigável, amorosa. É deixar que o amigo entre na nossa intimidade e revele também a sua intimidade. Esse passo se baseia na confiança mútua. Nós nos aproximamos d’Ele, sabendo que Ele nos ama incondicionalmente. Não há lugar para o medo numa relação assim. Se Ele nos ama, o que temer?


Essa amizade é transformadora! Quando amamos alguém, ficamos cada vez mais parecidos com aquele a quem amamos. Assim, a amizade com Jesus nos deixará cada vez mais parecidos com Ele. E não se espante... Ele também tem a nossa cara, porque se fez um de nós!


O que você acha de fazer a experiência de conversar com Ele como quem fala ao melhor amigo? Afinal, Ele é ou não o seu melhor amigo? Conte-lhe tudo da sua vida, não esconda nada! Diga o que está acontecendo com você, suas alegrias e tristezas, suas qualidades e defeitos. Ele vai entender você e ficará do seu lado, não importa o que você seja ou o que tenha feito. E escute também o que Ele tem para lhe dizer... Quem é amor só tem amor pra dar! E o amor transforma a gente em... adivinha o quê?