19. Desafio da interioridade

“O mundo mudou muito”, quase todo mundo concorda com essa afirmação. Uma das mudanças mais notáveis é que hoje não podemos mais nos fiar numa ordem das coisas, como nos tempos de outrora, quando tudo parecia estável ou, pelo menos, previsível. Não contamos mais com um farol na hora de atracar o barco de nossa vida. Nós nos tornamos o único autor de nossas escolhas morais e existenciais, pois vivemos hoje alienados de pertenças familiares, sociais, religiosas ou políticas. Não dispomos mais de referências estáveis; as que nos sobraram são sempre mais provisórias. E, apesar da multiplicidade de referências, nenhuma delas tem peso definitivo e isso nos confunde, exigindo-nos uma tomada de decisão para traçar os rumo de nossa vida.
Diante desse quadro, nós nos vemos obrigados a buscar dentro de nós as referências que não são mais visíveis desde fora. É, no interior de cada um, que reside a baliza que orienta a vida. Ora, construir esse quadro de referências lá na interioridade não é trabalho fácil; ao contrário, é tarefa árdua e para toda a vida, que exige autoconhecimento, além de coragem para fazer as escolhas e autenticidade para assumi-las. Há um caminho peregrino para o interior de nós mesmos que o tempo presente nos interpela a fazer, ou seremos estraçalhados pela sociedade multirreferencial que nos dá mil possibilidades, mas também nos atordoa. Eis o desafio da interioridade. Não é no exterior que se encontram as respostas buscadas, mas lá dentro de nós, no íntimo de nosso coração, na identidade escondida de cada um.
Tal desafio não pode ser ignorado pela catequese a não ser ao preço de a fé cristã que ela transmite cair no descrédito. Na catequese, também o caminho interior se impõe. A catequese é convidada não a dar respostas prontas para seus catequizandos, mas a ajudá-los a encontrar tais repostas dentro de si, a partir da experiência cristã de Deus que vão fazendo no percurso catequético. A catequese não está sem recursos diante desse desafio, pois é no íntimo do coração que Deus mora; é a partir de lá que ele fala na primeira pessoa com cada um dos catequizandos, interpelando-os a responder a seu apelo.
Eis por que hoje – ainda mais que em outros tempos – a catequese é interpelada a se des-escolarizar. Não é na exposição dogmática e doutrinária de temas religiosos que experimentamos a presença do Ressuscitado, mas no diálogo, na partilha, na oração, no silêncio, no canto, nas atividades pedagógicas, na escuta da Escritura... Deus, que é mistério de amor, vai envolvendo-nos com sua presença amorosa. A catequese tem muito a contribuir nesse processo de interiorização, desde que não queira impor – em nome da fé – respostas prontas. O Deus-amor, que a catequese anuncia e que é íntimo ao coração, precisa ser conhecido, acolhido, escutado... Para nós cristãos, é ele mesmo quem vai nos ajudar a construir nossa interioridade, dando-nos coragem para abrir mão de uma vida sem significado e para recomeçar nossos caminhos a partir de dentro.
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