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57. O encontro catequético como espaço dialogal

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01.02.2018 | 4 minutos de leitura
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57. O encontro catequético como espaço dialogal

Toda boa conversa precisa de um bom lugar. Uma conversa aconchegante, daquelas amanhecedoras, sem pressa de acabar, exige um espaço dialogal. Espaço não só no sentido de ambiente, aconchego, conforto para os corpos relaxarem e se expressarem livremente, mas também – e principalmente – espaço interno, no coração da gente. Sem esse espaço interior, fica quase impossível travar diálogo, trocar experiências, criar empatia, assumir corajosamente a dor e a alegria dos outros.


Quase todo mundo já deve ter experimentado isto: num dia, a conversa com uma pessoa querida não rende, não vai pra frente, fica emperrada; no outro, as palavras fluem qual rio manso que corre sem pressa de chegar ao mar. Tem muita coisa em jogo que pode favorecer ou impedir o diálogo. Para que uma boa conversa flua, é preciso construir um espaço dialogal; um espaço de confiança e liberdade onde as partes envolvidas podem ser o que são, podem se expressar sem medo de coerção, podem se dar ao outro sem medo de qualquer tipo de violência...


A catequese no mundo atual, tão plural e multirreferencial, deve ser um espaço dialogal onde crianças, adolescentes, jovens e adultos tenham liberdade para se expressar, sem medo de serem repreendidos nas suas convicções – algumas vezes nada ortodoxas. A catequese é um espaço de convivialidade, um espaço para se construir a interioridade, para se empenhar na laboriosa construção de uma identidade confiável, não fútil... Se, em vez de favorecer o diálogo, a catequese cercear impondo dogmas e doutrinas em nome da verdade, não abrirá possibilidades para o catequizando se mostrar e estará contrária ao que é mais genuinamente cristão: a liberdade humana. Como disse Paulo, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Não aconteça – como afirmou ainda o Apóstolo dos gentios – que, tendo sido libertados por Cristo, nos deixemos amarrar de novo ao jugo da escravidão, agora por preceitos e preconceitos religiosos (cf. Gl 5,2). Seria uma catástrofe! Seria anular a morte de Cristo e sua ressurreição vitoriosa!


Atualmente, compreendemos que a catequese não tem como objetivo doutrinar. No tempo do Concílio de Trento sim. Ameaçada pela Reforma, a Igreja se valeu dos catecismos para afirmar sua identidade por meio do ensino da doutrina. Mas gora os tempos são outros. A função da catequese – e isso já foi dito pelo Diretório Geral para a Catequese e pelo Diretório Nacional da Catequese – não é ensinar a doutrina, mas gerar a experiência cristã de Deus. Essa experiência não se dá na coerção ou no amedrontamento, mas na liberdade e na confiança que só o amor pode gerar. Por isso, a catequese é um espaço dialogal; não uma reunião semanal para aprender doutrinas e preceitos religiosos, mas um encontro entre amigos que se lançam na aventura de fazer seu mergulho no Cristo. Essa experiência de encontro se dá quando todos podem se expressar, quando os catequistas abrem o diálogo para que os catequizandos se mostrem, se revelem sem medo de violência. Certamente não falamos de violência física ou até psicológica – coisa que imaginamos não haver em hipótese alguma na catequese. Falamos de violência simbólica, tão cruel e perversa – ou até mais pois é silenciosa e legitimada em muitos casos – quanto as outras formas de violência. A violência simbólica das religiões não é coisa rara, nem está ausente de nossa catequese infelizmente. Cuidemos para que a catequese seja um espaço dialogal, onde Jesus de Nazaré  possa se dizer a todos nas palavras humanas!







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