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99. Sobre os anjos

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03.01.2018 | 5 minutos de leitura
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99. Sobre os anjos

Não é incomum encontrar por aí quem seja devoto dos anjos: de são Miguel, são Rafael, são Gabriel ou dos anjos da guarda, dos anjos poderosos etc. Há quem jure que eles existem e há até aqueles que afirmam já tê-los visto.


Alguns ensinam que é preciso conversar com os anjos, pedir a eles proteção e até se tornar íntimo de seu próprio anjo da guarda, a ponto de lhe perguntar seu nome. E há quem jure de pé junto que, perguntando, eles se apresentam e se tornam companhias íntimas da vida diária.


No mundo da devoção angélica, pensam alguns, que os anjos têm funções definidas. Uns anunciam notícias divinas, como Gabriel. Outros defendem do diabo, como Miguel. Outros são companheiros de viagem e trazem curas, como Rafael. E inda há aqueles que têm a função específica de nos proteger dos atropelos da vida, como mostra aquela antiga representação de um menino brincando com seu arco e uma menina em busca de sua bola, ambos à beira de um rio, na iminência de caírem no precipício. Atrás deles, socorrendo-os da displicência infantil, está o anjo protetor, com suas grandes asas abertas, arrancando suas vidas do caos da morte.  


Além disso, fazem parte do acervo religioso as famosas preces aos anjos da guarda. Quem nunca rezou “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine. Amém!”? Ou quem não aprendeu ainda criancinha a pedir ajuda a seu anjo da guarda, recitando docemente “anjinho da minha guarda, doce companhia, não me desampare, nem de noite, nem de dia”?


Entendidos como seres criados por Deus para fazer o bem sobre a terra, os anjos ajudam a compor o imaginário coletivo religioso. Não poucas vezes dizemos: “carinha de anjo”, “cabelinho de anjo”, “sorriso de anjo” etc. Ou ainda, “tem a bondade de um anjo”, “foi um anjo em minha vida”. Parece que os anjos ganharam espaço entre nós, nem que seja no mundo lexical que habitamos.


Mas quem são os anjos? De onde vem essa devoção?


Bom, comecemos pela bíblia. Na Escritura Sagrada, anjos e demônios só apareceram depois do domínio persa. O mundo religioso da Pérsia era povoado por esses seres do bem e do mal. Tendo convivido com essa cultura, depois de retornar do exílio, o povo de Israel começou a explicar suas questões religiosas com a ajuda de seres angelicais. Somente os textos que são posteriores ao exílio trazem essas figuras. Como na cultura judaica não era possível – a não ser sob pena de morte – ver o rosto de Deus, os anjos passaram a representar o próprio Deus, que se manifestava ao povo. De vez em quando, vemos no Antigo Testamento a expressão “o anjo do Senhor”, que significa o próprio Deus.


Reparemos que os anjos da devoção católica têm sempre nomes terminados com El, que era nome atribuído a Deus. Gabriel, que significa “mensageiro de Deus”; Rafael, que quer dizer “Deus cura”; Miguel, que é “quem como Deus?”. Além disso, não faltam textos que mostram que o anjo representa Deus. Vejamos. Jacó lutou com um anjo e, por causa disso, seu nome passou a ser Israel, aquele que luta com Deus (Gn 32,23-30). Tobias foi acompanhado em viagem por um anjo, ou seja, por Deus mesmo (Tb 5). Elias foi alimentado por um anjo no deserto, ora, pelo próprio Deus (1Rs19,1-8). Ou ainda, em Êxodo, Deus promete ao povo sempre caminhar com ele: “Mandarei um anjo à tua frente para que te guarde pelo caminho” (Ex 23,20), ou seja, Deus mesmo caminhará com sua gente.


Outra curiosidade é o modo como os anjos são representados: sempre com grandes asas.  Como entendia-se que o mundo de Deus – o céu – ficava acima das nuvens, para entrar em comunicação com os humanos, qualquer ser celeste precisava de asas para voar” e ultrapassar os limites entre o céu e a terra. Essas asas não são exclusividade de anjos. Deus mesmo tem asas, diz o salmista “sob suas asas encontrarás refúgio” (Sl 91,4) ou “protege-me na sombra de tuas asas”.


Na idade Média, os anjos ganharam popularidade. Receberam várias classificações e uma verdadeira devoção se desenvolveu em torno deles. É bem verdade que o Pseudo-Dionísio, o Areopagita, já tinha no séculos IV-V, escrito sobre eles. Mas, foi mais tarde, quando desenvolveu-se a teologia do medo, que eles ganharam papel importante. Deus passou a ser entendido como inacessível, logo era importante a atuação dos mediadores, os anjos ou os santos. Os anjos se tornaram uma espécie de “mensageiros” que levam e trazem recados e bênçãos da parte de Deus.


Numa leitura bem feita da Escritura Sagrada, anjos não são seres espirituais que ficam nos protegendo ou intermediando favores. São figuras de linguagem para falar do próprio Deus. Quem conhece aos Carta aos Hebreus já entendeu que o único mediador entre Deus e os homens é Cristo.







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