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75. Neoconservadorismo

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17.06.2016 | 3 minutos de leitura
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75. Neoconservadorismo

O Vaticano II trouxe ventos novos do Espírito para a Igreja. Desarmada de suas defesas, a Igreja fez um concílio ecumênico, longe do modelo anematizante. Ao contrário, o concílio foi acolhedor e inclusivo.


“Era preciso se reconciliar com o mundo!”, pensavam o papa João XXIII e grande parte dos conciliares.  Desde Trento, a Igreja havia se indisposto com as novidades da corrente reformista e havia se fechado em um mundo próprio, sem se abrir para a relação fraterna com a sociedade. A postura apologética da Igreja, seu medo do modernismo e sua atitude de defensiva não ajudavam na transmissão da fé. Era preciso dialogar, fazer parte da sociedade, entrar na dinâmica do mundo e ser fermento na massa, como afirmou Jesus nos Evangelhos. Foi assim que o concílio se abriu para as novidades do seu tempo, esperançoso de ver a Igreja sendo sinal do Reino no mundo.


As novidades do concílio tiveram grande impacto na época. Depois, com o passar do tempo, uma onda de conservadorismo começou a agitar os mares da Igreja. Atualmente, não é difícil sinalizar esse neoconservadorismo. Ele está presente tanto na revalorização das vestes sacras, quanto nas antigas devoções que acham de novo espaço entre nós. Instituições de cunho mais rigorista, com exigências religiosas e morais, estão ganhando adeptos. “Quanto mais fundamentalista, mais vocações”, dizem alguns. Não sei se essa proporção é correta, mas uma coisa é certa: não têm faltado instituições fundamentalistas que dispensam seus membros de maiores exercícios da razão e da liberdade, dando-lhes regras prontas e acabadas. Isso é preocupante!


A pós-modernidade é marcada pelo desejo de liberdade, pelo desejo do indivíduo de ser sujeito de sua própria vida, de construir sua identidade, num trabalho árduo e fadigoso para forjar a própria interioridade. Mas por que construir a interioridade ou a identidade? Porque as referências não são mais dadas pelo mundo externo. As instituições se enfraqueceram e ficaram frágeis os laços de pertença. Não há mais grandes narrativas que ditam nosso modo de ser; há um universo plural de possibilidades e referências em meio ao qual devo escolher o que quero ser e o que posso ser (ou consigo ser). No meio de tantas vozes soando ao mesmo tempo, já não é possível construir a identidade por uma só delas. Assim, as referências migraram-se para dentro do indivíduo. É o processo de subjetivação das referências.


As instituições fundamentalistas que eximem o indivíduo dessa tarefa da construção da interioridade aproveitam-se dessa fragilidade do indivíduo. É bem mais fácil achar uma identidade pronta que ter que construí-la. A construção de uma interioridade que não seja fútil, que tenha sentido, é tarefa muito dolorosa e trabalho para a vida inteira. Impedir tal processo é infantilizar os indivíduos, dando-lhes tudo pronto. É romper com o exercício da liberdade, sendo que foi “para sermos livres que Cristo nos libertou”, como disse Paulo (Gl 5,1). Toda tendência de restauração da fé por meios de métodos conservadores deve ser vista com desconfiança, pois não afirma o sujeito. Fica aí a dica!







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