34. Aula ou encontro de catequese


Durante muitos séculos, a catequese tomou ares escolares. Trento e seu Catecismo dos Párocos, cuja elaboração ficou a cargo de Carlos Borromeu e sua equipe, deu boa contribuição nesse processo, quando fez da catequese uma atividade que combatia a ignorância religiosa da época, para evitar descaminhos do povo nos passos da Reforma Protestante. Vieram muitos outros catecismos que reforçaram essa ideia. Mas foi com o papa Pio X, que autorizou a comunhão eucarística para os infantes, que a catequese se especializou em crianças e virou curso preparatório para os sacramentos. Mérito teve Pio X quando, ao autorizar a comunhão para as crianças, mostrou que esse sacramento não é pão dos justos nem dos santos nem dos doutos, mas alimento para a vida de todo crente. A Eucaristia, na época, mais adorada que manducada (manducar, verbo próprio para dizer do comer a ceia; literalmente “comer com as mãos”) foi de novo popularizada.
Convenhamos, porém, que a infantilização do processo catequético e sua escolarização têm até hoje seu preço. A catequese virou aula; o catequista virou professor de catequese (ou pior, de catecismo, em alguns casos); o catequizando virou aluno; a transmissão da fé virou um conjunto de conteúdos a serem ensinados; a experiência pessoal com o Ressuscitado foi reduzida a um montão de fórmulas da fé a serem apreendidas, assimiladas. E os sacramentos da iniciação cristã, que, no catecumenato, sinalizavam o processo de iniciação dos que na fé queriam fazer seu caminho de vida, foram ministrados sem a devida iniciação de fato. Fizemos os ritos iniciáticos sem a devida iniciação. Porque ensinar conteúdos não inicia ninguém; no máximo arranca da ignorância.
Aí o ato catequético virou aula mesmo. A organização da catequese copiou o modelo escolar; os catequizandos foram encaminhados para as diversas etapas dependendo do grau de escolaridade e do sacramento que recebeu. A catequese copiou a escola em tudo: passar matéria no quadro, decorar conteúdos, estudar as lições, fazer arguições e provas, provar que se tinha conhecimento da matéria dada, que se estava preparado para receber um sacramento... Eis as exigências para receber os sacramentos. Os menos capacitados intelectualmente foram punidos; os que traziam dificuldade de aprendizagem ou os portadores de necessidades especiais no campo cognitivo ficaram excluídos. Não se mostravam esclarecidos o suficiente para receber a eucaristia. E, no final do curso, os capazes eram premiados com o sacramento, com direito a festa de formatura, diploma de conclusão de curso, fotografia e tudo mais. A catequese virou aula; seu percurso virou curso preparatório para receber algum sacramento. A escolarização da catequese aconteceu em todos os sentidos: desde o espaço onde a catequese acontece, passando pelo ato catequético transformado em aula, até a organização segundo ritmos escolares. Mudar essa mentalidade vai levar tempos, mas não custa tentar. Pequenos esforços podem trazer grandes resultados.
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