22. Magistério “ordinário” e magistério “autêntico”


As expressões magistério “ordinário” e magistério “autêntico” com frequência estão presentes no universo teológico. Por isso, torna-se necessário precisar com rigor cada um destes termos, evitando ambiguidades e usos duvidosos. Normalmente, o sentido dessas expressões não corresponde ao sentido conhecido na linguagem corrente. O termo autêntico, por exemplo, foi tomado algumas vezes como mais forte e de significado mais amplo que o termo ordinário, enquanto que o contrário é que é verdade.
Essa polêmica entra em questão quando se questiona a infalibilidade do magistério. Para se entender bem isso, é preciso clarear alguns pontos relativos ao magistério extraordinário e o magistério ordinário.
O magistério extraordinário parece não ser motivo de dissensões teológicas. Reina um pensamento comum na teologia católica que não deixa dúvidas. Esse magistério pode ser exercido de duas formas distintas: o papa reunido com os bispos em concílio ou o papa sozinho. Em ambos os casos, é consenso geral que este magistério é infalível.
O magistério ordinário, porém, não goza da mesma coesão entre os teólogos. Ele pode ser exercido pelos bispos em união com o papa, quando estes ensinam verdades cridas pelos fiéis. Por exemplo, que Jesus é Filho de Deus. Esta é uma verdade, desde muito crida e ensinada pela Igreja. Logo, o magistério ensina essa verdade de fé e é infalível nesse exercício.
Já o magistério ordinário do papa - que continuamente ensina, especialmente, por meio das encíclicas - não pode ser posto em paralelo com o seu magistério extraordinário. Não há simetria entre os dois. Se o papa pode exercer sozinho o magistério extraordinário – que é infalível! –, isso não lhe faz dispor a título pessoal de um magistério ordinário também infalível.
É nessa hora que o termo “autêntico” precisa ficar bem definido. Dizer que o magistério ordinário do papa é autêntico, não é o mesmo que dizer infalível. Ao contrário, neste caso, a infalibilidade não se aplica. Apesar de autêntico, pois o papa – assim como também os bispos! – tem o múnus de ensinar, seu ensinamento ordinário pede obediência fiducial, mas não assentimento de fé. Esta é uma questão que parece não estar muito clara ainda para alguns cristãos. Tendo emergido novamente em alguns textos oficiais recentes e sendo uma bandeira levantada por alguns teólogos nos últimos tempos, o magistério ordinário do papa tem sido entendido como infalível, como se, a cada encíclica escrita, o papa declarasse uma verdade de fé contra a qual não há argumento. Algo comparado a um dogma declarado no exercício do magistério extraordinário. Questões ligadas precisamente ao campo moral e disciplinar têm sido alvo dessa confusão. Uma vez que um papa fez uma dada afirmação, alguns sucessores ficaram inseguros de afirmar algo diferente, com medo de contradizerem um ensinamento infalível. Mas é bom lembrar que este é um campo perigoso. Nunca fez parte da fé da Igreja, a infalibilidade do magistério ordinário do papa, pois seu ensinamento corrente foi, ao longo da história, entendido como legítimo, mas não como infalível.
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