193. Ode à imbecilidade
“A sabedoria esteve ao seu lado,
contra a cobiça dos opressores” (Sb 10,11)
“A internet deu voz aos imbecis”
(Humberto Eco)
Assistimos a um desfile de bobagens na internet, na TV, na política, na religião... Parece que quanto menor o bom senso, maior a projeção nas redes sociais. Quanto maior a ignorância, maior o número de seguidores. Se idiotices são ditas sem pudores, o arauto da burrice logo se torna guru de multidões; não lhe faltam discípulos...
Em tempos de internet, youtubers são mestres, professores, sábios e doutores sem nunca terem gastado fosfato com a arte de pensar. Basta arrotar asneiras e cuspir bobagens. Assistimos a uma verdadeira ode à imbecilidade; e esse ensaio diz respeito especialmente a padres, pastores e outros líderes religiosos. A religião se tornou mesa farta para alimentar extravagâncias, excentricidades e paranoias. Quanto menos teologia, mais seguidores. Quantos menos capaz de dar as razões da fé, mais milagreiro o líder. Quanto menos sensato, mais pop star. Basta botar uma batina do milênio passado e um chapéu de boiadeiro na cabeça para virar o queridinho da mídia. Basta meia de dúzia de palavras em latim e uma capacidade duvidosa de folhear catecismos para se convencer a multidão de crentes de qualquer bobagem. Vale até usar Tomás de Aquino, o Santo da Suma Teológica, para condenar a moda das roupas rasgadas, pois estas atentariam contra a modéstia cristã. Realmente, dessa vez foi demais. Hoje, não caí dura quando ouvi isso, porque meu compromisso com a vida não me permite morrer de raiva. Há causas maiores pelas quais devemos viver, como resistir à cobiça do opressor e defender as minorias.
Realmente, ando desiludida com a inutilidade dessas pregações, desses discursos moralizantes e toscos que agradam alguns. Às vezes, a gente até precisa tomar distância para manter a sanidade: sair do Facebook, dar um tempo do Instagram, desativar o WhatsApp, pois essa loucura pega. É preciso um tempo para desintoxicar de burrices, de ódios e de ignorâncias que campeiam nas telinhas dos computadores e dos smartphones. “A internet, como disse Humberto eco, deu voz aos imbecis”. A frase é forte, mas a imbecilidade é tal que precisa ser anunciada. Ou a gente se vacina, ou estamos todos correndo risco de sérias contaminações. Melhor a gente se prevenir.
Não sou saudosista; nem valorizo épocas que já se foram, pois sei que não eram perfeitas, muito menos gloriosas como a distância do tempo faz parecer. Estou certa que cada tempo apresenta seus limites e suas conquistas. Mas, vamos assumir, a burrice que atualmente dá as caras nas telinhas está assustando a gente. A sabedoria bíblica passa longe desses espaços, mesmo que frases bíblicas pululem em toda parte. A sabedoria que esteve ao lado do povo sofredor, que o protegeu contra a cobiça dos opressores, que lhe ensinou o caminho da vida, essa está escassa. São tantas idiotices religiosas – e faladas com tal convicção – que elas são capazes de eleger um presidente. Não é de dar medo? Não sei mais o que fazer para mostrar a nossa gente de fé o perigo dessa arapuca. Só nos resta fazer resistência e rezar: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém!”.
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