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39. O sofrimento

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22.11.2017 | 5 minutos de leitura
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39. O sofrimento

A presença do sofrimento na vida humana sempre incomodou a muitos. E continua incomodando. Há pessoas cujo objetivo é levar uma vida sem dificuldades ou dor. Essas não entendem nem aceitam a presença das lutas que causam sofrimento. Há outras pessoas cujo objetivo é viver a vida plenamente. Estas entendem que a vida é feita de muita luta.


Por muito tempo nos foi ensinado que os sofrimentos são uma forma de purificação e um caminho certeiro de santificação, para nós e para o mundo. Esse modo de pensar já levou muita gente a ver no sofrimento algo que deva buscado, desejado. Mas não precisamos desejar nem buscar o sofrimento, pois o sofrimento em si não purifica ninguém. Às vezes, causa mal-estar e revolta. Deus não quer o sofrimento. Ele quer a fidelidade.


Ao contrário do que foi ensinado, hoje em dia, mesmo entre os cristãos, é muito difundida a ideia de que o sofrimento é sempre mau e detestável, como se todo sofrimento viesse do demônio ou do pecado. Quem pensa assim, vai achar que a pessoa de fé não deve sofrer. Então se prega que, aceitando Jesus, a pessoa não sofrerá mais, o que é uma grande ilusão, pois até Jesus sofreu. Então ensinam que, se Jesus já sofreu por nós, não precisamos sofrer, porque ele, na cruz, já nos libertou de todo sofrimento. Mas isso não é verdade. Jesus viveu o seu sofrimento; cada um precisa enfrentar o que lhe é próprio. Não foi à toa que Paulo disse que, seguindo a Cristo, completamos a obra dele, inclusive enfrentando a cruz de cada dia. Faz parte da vida de quem segue Jesus assumir as palavras do Evangelho: “Quem quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24-25). O fato de Jesus ter sofrido não significa que nós não tenhamos também que passar pelo sofrimento.


Mas, então, como entender isso? Não devemos buscar o sofrimento, nem devemos nos imaginar livres dele! O sofrimento faz parte da vida, pois a vida se esbarra nos limites da existência, no tempo, no espaço, na carne humana tão frágil, na fragilidade psicológica, na complexidade da sociedade, na natureza tão instável. Tudo isso provoca sofrimentos. Essas coisas fazem parte do mundo. E, como estamos no mundo, estamos sujeitos ao sofrimento que o compõe. O fato de seguir Jesus não nos tira do mundo. Não nos isenta de lidar com as fragilidades nossas e da humanidade e com os sofrimentos que são próprios da vida humana. O fato de seguir Jesus também não nos traz maiores sofrimentos, como afirmam alguns. Há quem pense que quem segue Jesus sofre mais. Não existe essa lógica. Como aquele ditado: “Quanto mais reza, mais assombração aparece”. A pessoa que entende assim acha que ficar unido a Jesus é sinal de sofrimento na certa. Ora, não é isso. As pessoas de fé não sofrem mais nem menos. Conhecendo os ensinamentos de Cristo, elas enxergam a fragilidade da existência de modo mais claro. Mas também é certo que pessoas de fé têm mais força para lidar com suas próprias dores e com as dores do mundo.


A pessoa de fé vai fazer de tudo para evitar a dor, porque é próprio do ser humano não aceitar a dor de qualquer forma, como se ela fosse em si coisa boa. Por outro lado, a pessoa de fé vai saber manter a serenidade e a fidelidade naquelas situações em que os sofrimentos não poderão ser evitados. Porque essa é a realidade: nem tudo pode ser evitado. A posição é de equilíbrio: nem resignação passiva, como se a dor fosse vontade de Deus, nem revolta ou medo de sofrer, com se isso fosse aniquilar nossa vida. Jesus não vai nos livrar da dor. Só se ele nos retirasse do mundo. Só se a gente deixasse de ser humano. Jesus vai nos dar força para “entrar pela porta estreita” (cf. Mt 7,13s) e seguir em frente.


É bom lembrar que a presença da dor não pode ser tomada como sinal de falta de fé. Mesmo quem tem fé está sujeito ao sofrimento. A diferença é que, se esta fé for madura, a pessoa terá serenidade e força para enfrentar suas lutas. Não é porque não temos fé que sofremos. Ao contrário, é porque temos fé que damos conta da vida, mesmo com toda a dor. Com isso, fazemos como Paulo. Vamos completando a obra de Cristo, espalhando fé e amor nesse mundo cheio de fragilidades. Não que a obra de Cristo não tenha sido completa. Mas ela precisa ser atualizada em todos os tempos pelas pessoas que seguem Jesus e que continuam, de algum modo, dando a vida e se mantendo fiéis, neste mundo marcado por contradições. Imaginar a vida humana sem fragilidades é, como diz nossa gente, “querer o céu na terra”. Melhor assumir a fragilidade da vida, para não ficarmos iludidos nem nos encantar com falsas promessas de vida fácil.







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