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31. A bíblia na vida da Igreja I

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19.08.2016 | 6 minutos de leitura
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31. A bíblia na vida da Igreja I

O que chamamos de Bíblia Sagrada é um conjunto de livros, escritos durante um longo tempo. Há diversos tipos de bíblia. Temos a bíblia católica e a bíblia protestante. A bíblia hebraica e a bíblia grega. Mas tomemos como referência o cânon católico – a lista de livros que a Igreja Católica aceita como inspirados por Deus e contendo a verdade da fé. Nosso cânon está dividido em dois grandes grupos: o Antigo Testamento (AT), formado por 46 livros, e o Novo Testamento (NT), formado por 27 livros. O AT é formado por livros escritos antes de Cristo e o NT é formado por livros escritos depois de Cristo.


Costumamos chamar a bíblia de Palavra de Deus. Em que sentido devemos entender essa expressão? Teria Deus ditado a bíblia para alguns eleitos, pessoas inspiradas pelo Espírito Santo? Os livros da Bíblia foram escritos por pessoas comuns, gente de fé que registrava em forma de relatos diversos sua experiência de Deus. O fato de a bíblia ser para nós cristãos Palavra de Deus não quer dizer que Deus ditou a Bíblia e alguém foi anotando. Não é assim. Deus não ditou nada. Deus iluminou a vida de uma comunidade. As pessoas acolheram a presença de Deus e fizeram sua experiência de fé. Depois, foram redigindo, aos poucos, o que achavam mais importante transmitir de suas experiências religiosas. Então, quando dizemos que a Bíblia é um livro inspirado por Deus, isso não significa que Deus tenha ditado a Bíblia para os autores escreverem, mas que pessoas inspiradas por Deus, ou seja, pessoas de fé escreveram relatos sobre como experimentavam a presença de Deus em suas vidas.


Nesses 73 livros que constituem a bíblia, há informações de todo tipo, mas o que interessa para nós são os ensinamentos que nos conduzem à salvação, ou seja, a sabedoria que o povo foi ajuntando com o tempo a partir de sua experiência de fé. Essa experiência, feita por tantos, nos ajuda a fazer nossa caminhada de fé também. Não procuramos na Bíblia informações sobre ciência, história, geografia, nem mesmo sobre costumes culturais. Se ela fala da vida, certamente não escapa desses temas. Uma rápida leitura em alguns de seus textos e lá veremos ciência, história, geografia e outras áreas do saber. São o pano de fundo dos relatos ou o substrato no qual o pensamento teológico se edifica. Certamente não são a ciência, a história ou a geografia de hoje, mas as daquele tempo.  O escritor não poderia adivinhar a ciência de hoje. Não tinha bola de cristal para saber que o mundo é redondo, que a Terra gira em torno do sol etc. Ele sabia o que era possível saber e escreveu os relatos de fé sobre o substrato de conhecimento do seu tempo. Além de informações sobre ciência, os relatos bíblicos vão falar também dos costumes daquela época. Como o mundo evolui, os costumes mudam. Também no campo das ciências, há sempre novas descobertas. Mas isso não interfere na mensagem de salvação, ou seja, na sabedoria de fé que os autores sagrados quiseram transmitir.


Por isso, ao ler a bíblia, precisamos saber distinguir o que é mensagem de salvação do que é simples relato da cultura ou do conhecimento daquele tempo. A sabedoria de vida que a bíblia transmite está enraizada em outra cultura, em outro tempo, em outros costumes, em outra história. Essa sabedoria nos é dada através de relatos, e cada um relata sua história de seu jeito. Por exemplo: a bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego porque são línguas que o povo hebreu falava naquele tempo. Se ela tivesse sido escrita em outro tempo, por outro povo, seria escrita em outra língua. Então, a Palavra iluminadora de Deus vem numa embalagem própria, ou seja, vem com o formato do povo e dos costumes daqueles que a escreveram. Mas nem por isso deixa de ser Palavra de Deus. Ela é de Deus porque é Deus que se deixa conhecer e experimentar por essa gente que relata suas histórias. Ela é também palavra humana porque não foi Deus quem escreveu. Foram pessoas comuns, como nós. A bíblia não é um ditado de Deus, mas é Deus se revelando na história de sua gente.


Se a bíblia não é um ditado de Deus e ela está cheia de questões culturais próprias daquele tempo, seria muito perigoso tirar o texto do contexto e fazer afirmações categóricas acerca da fé ou da moral cristã. Cada relato precisa ser bem entendido para não gerar fundamentalismos e outros males em nome de Deus. Não convém pegar as leis da bíblia e aplicá-las diretamente sem uma interpretação adequada; como se ela nos dissesse exatamente o que devemos fazer. Ora, muitos vão se perguntar. Se a bíblia não nos ensina o que fazer, então para que serve a bíblia? Bom, depende. O que procuramos quando lemos a bíblia? Queremos fazer um encontro com Deus, como fez aquela gente que nos deixou de herança esses relatos de fé ou queremos um código de leis prontinho que nos dispense de pensar e discernir a vida? Queremos que os relatos bíblicos nos ajudem a conhecer o Deus que liberta e salva ou queremos simplesmente nos dispensar da árdua tarefa da liberdade responsável?


O bom cristão não deseja encontrar na bíblia uma lista de preceitos prontos para poder cumprir. Certos preceitos serviram para aquele tempo, mas não servem mais para o nosso tempo, porque já houve muitas mudanças no mundo e na humanidade. A bíblia não é um conjunto de doutrinas nem de leis que devem ser seguidas ao pé da letra. Ela é como um espelho, no qual a gente olha e vê a vida da gente no relato da vida de um povo. Ao ver a vida daquela gente de fé que procurava seguir a Deus; ao ver que Deus se manifestava com toda simplicidade na história dessa gente, nós também nos animamos a nos abrir para o mistério desse Deus maravilhoso que vem ao nosso encontro e faz parte da nossa vida.







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