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121. Cartinha - em tempos de zaps apressados

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07.06.2022 | 2 minutos de leitura
Prof. Silvia Maria de Contaldo
Diversos
121. Cartinha - em tempos de zaps apressados
Querido amigo Konings, 
Escrevo-lhe em fins de um agosto pouco promissor. De algum tempo para cá não temos mais belos horizontes, nem portos alegres e são poucos os rios que correm de janeiro a janeiro. Mas aprendi com você – e continuo aprendiz – a cultivar esperanças. Está dito nos versos de uma linda música do Rubinho do Vale que, para ter boa colheita, é preciso ser bom plantador. Plantador de palavras você tem sido. Semeador de esperanças também, sem que lhe falte o adubo do bom humor e da ironia refinada. Sua obra é canteiro de ideias, que faz germinar pensamento crítico, é sementeira de valores, lá dispostos para que todos possam dela se servir. 
Então, essa cartinha – em tempos de zaps apressados – é para lhe dizer o quanto sua presença é vida que frutifica e nos anima a seguir o plantio. 
Nesse ano em que você comemora 80 anos, há muita história pra lembrar, muitos casos pra gente rememorar, há muita vida pra celebrar. Há tanta palavra em seu canteiro de ideias pra ser colhida que nem sei se o nosso alfabeto/balaio daria conta de carregar tudo. São palavras transformadoras que todos aprendemos com você e, mais ainda, aprendemos a reconhecer o entrelaçamento coerente entre palavra e ação. Quer ver? Amizade, Bondade, Coração, Diferença, Explicação, Finitude, Gratidão, Honestidade, Inquietude, Justiça, Kairós, Liberdade, Morte, Nação, Outro, Pessoa, Resistência, Sagrado, Tribo, Utopia, V (de vinho), Weltanschauung, Xadai, Yahweh, Zelo. 
Cada um desses vocábulos remete a um trecho de um texto seu, ou a uma fala, ou a um acontecimento sobre o qual você nos brindou com suas análises e com seus gestos significativos frente a inúmeros episódios culturais, sociais, políticos. Mas, para não estender muito, ficarei com a palavra Tribo que, para mim, tem significado especial e singular. Eu sou eu e minhas circunstâncias, escreveu o filósofo espanhol Ortega Y Gasset. Numa dessas circunstâncias, também já faz mais de uma década, eu tratava um primeiro câncer de mama e você e Solange do Carmo me visitavam regularmente. Amizade partilhada – na mesa com a massa e com o vinho – estava feita a Tribo. Com o passar dos anos, outros amigos foram chegando e a Tribo tornou-se espaço de encontro, de afetos, de inconfidências. E assim continuamos. Tecendo junto com você, amigo do coração, as palavras que nos fortalecem e nos inspiram a seguir cuidando da vida e a não desistir nem da plantação nem da colheita! Me despeço, na esperança de poder abraçá-lo na próxima primavera – essa que especialmente vai florir para os seus oitenta anos! 
Da sua amiga de muitas estações,
Sílvia Contaldo