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39. Um caso entre tantos outros

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27.02.2015 | 2 minutos de leitura
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Para Meditar
39. Um caso entre tantos outros

Solange
Maria do Carmo



Padre Geraldo Orione de Assis Silva


(Texto de Frei Betto)


Uma jovem que havia se revoltado contra sua família entrou em crise e decidiu escrever a seguinte carta:


“Imagino a raiva que vocês têm de mim. Sim, fui muito ingrata com vocês. Larguei os estudos, tornei-me uma viciada, fugi, desapareci. Vim para São Paulo, com um amigo, e aqui passei a viver de pequenos expedientes. Na verdade, afundei-me na lama.


O fato é que agora estou na pior. Peguei Aids. O que temo não é a morte. Ela é inevitável para todos nós. Tenho medo é de ficar sozinha. Preciso de vocês, de minha família. Mas também sei que os maltratei muito e posso entender que queiram manter distância de mim. É muito cinismo de minha parte vir agora pedir socorro. Mas, sei lá, alguma coisa dentro de mim dá forças para que eu escreva essa carta. Nem que seja para saberem que estou no começo do fim.


Um dia qualquer passarei aí, em frente à casa, só para dar um último adeus com o olhar. Se por acaso tiverem interesse que eu entre, numa boa, prendam na goiabeira do jardim um pano branco ou uma toalha de rosto. Então, pode ser que eu crie coragem e dê um alô. Caso contrário, entendo que vocês têm todo o direito de não querer carregar essa mala pesada e sem alça na qual me transformei. Irei em frente, sem bater à porta, esperando em Deus. Que um dia a gente se encontre do outro lado da vida. Beijos da filha ingrata, mas que ainda guarda, no fundo do coração, muito amor.”


Três semanas depois, antes das cinco horas da manhã, a jovem desembarca na rodoviária e toma um ônibus em direção à casa da família, de sua família. Desce na esquina e caminha insegura e temerosa. Sabe que a essa hora, toda a família deve estar dormindo. Ao vislumbrar a ponta do telhado, seu coração acelera. Olha o portão de ferro, as grades, o jardim, o cume da goiabeira. Nesse momento, seus olhos se enchem de lágrimas. De repente, uma coisa branca quebra o antigo cenário. Não é uma toalha nem um pano de prato. É um lençol enorme estendido sobre a goiabeira. Em prantos, a jovem atravessa a rua e corre para a sua casa.