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23. O Livro do II Isaías: Consolo para o povo sofrido

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09.07.2015 | 4 minutos de leitura
Solange Maria do Carmo
Livros Bíblicos
23. O Livro do II Isaías: Consolo para o povo sofrido

Tal foi a força da mensagem do Primeiro Isaías que ela perdurou no tempo. Por ocasião do Exílio Babilônico (586-538 a.C.), um discípulo desconhecido seguiu as pegadas do grande profeta, consolando o povo deportado e dando-lhe esperanças. O Livro do Segundo Isaías, que abrange os capítulos 40 a 55, exalam beleza e vigor, sendo chamado também de “Livro da Consolação”. Ao ver ao longe que Ciro, rei da Pérsia, alcançava suas primeiras vitórias, o profeta se inflama de esperanças: a Babilônia tinha seus dias contados; a Pérsia seria o novo império.


Bem diferente da política babilônica era a persa que, em vez de deportar os povos subjugados, mantinha cada qual em suas próprias terras, plantando, construindo, prosperando, para pagar altos tributos ao império. No desenfreado desejo de retornar à pátria amada, o profeta vê Ciro como um messias, capaz de dar ao povo a libertação esperada (cf. Is 45).


Apesar de toda a beleza do Livro, percebe-se claramente que ele também não é um texto homogêneo, escrito de uma só vez, por uma única pessoa. Os cânticos do Servo Sofredor (cf. Is 42,1-4; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,2), espalhados nessa unidade, revelam a não-uniformidade do escrito. Mas a mensagem principal de consolação e esperança se encontra em cada versículo, tanto na primeira parte que mostra a face do Deus libertador, quanto na segunda que anuncia a restauração de Israel.


A abertura do Livro já traz sua marca: a consolação. “Consolai, consolai o meu povo!” (Is 40,1) são as primeiras palavras do profeta que, impregnado de esperança, grita em alto e bom som anunciando o fim do cativeiro: “seu cativeiro terminou; sua culpa está paga!” (Is 40,2). Em seguida, a superioridade de Deus sobre os ídolos é declarada (cf. Is 40,12-26). Ele vai libertar seu povo, pois é Deus libertador, aquele que revigora sua gente (cf. Is 40,27-31).


Ora, se Deus vai revigorar seu povo – pensam eles –, aquele que for instrumento dessa libertação será o Ungido de Deus; Deus mesmo o convocará para agir em favor de seu povo (cf. Is 41,1-5). E foi pensando assim que o povo de Judá deu a Ciro – um gentio ou estrangeiro – um título honroso, reservado para os descendentes de Davi, cuja missão era governar o povo escolhido por Deus: ungido (cf. Is 45,1-3). Todo o Livro da Consolação transparece essa esperança: Deus está agindo; de longe, ele traz Ciro para libertar os exilados e devolver sua gente à sua Terra natal.


Ganham relevância nesse livro, dois temas curiosos, que estão em perfeita sintonia com a teologia que predomina: 1) Israel é servo de Deus (cf. Is 41,8-16 e diversos cânticos do Servo Sofredor); 2) Os deuses não são nada, ídolos inventados por mãos humanas (cf. Is 41,6-7. 21-29; 44,9-20; 46,1-13).


Sobre o primeiro tema, fica claríssima a escolha de Deus: Deus ama seu povo, elege-o, faz dele seu servo. É exatamente por causa dessa eleição que Deus não abandona os exilados, mesmo que pareça o contrário. Ele traz Ciro de longe para humilhar o opressor, a Babilônia, e devolver a dignidade perdida de seu povo. Israel pode esperar confiante, pois Deus não voltou sua promessa atrás, não desistiu de amar seu escolhido (cf. Is 43,1-7). A Babilônia será humilhada; ficará no vexame aquela que maltratou a menina dos olhos de Deus (cf. Is 47).


Quanto aos deuses da Babilônia e outros ídolos, o Segundo Isaías é atrevido. Ironiza a idolatria; ridiculariza a crença nos deuses feitos por mãos humanas; mostra a insignificância da idolatria e sua estultícia. E ainda deixa em má situação aqueles que fabricam esses ídolos e difundem sua crença. Para o profeta, não pode haver maior ignorância e maior insensatez que colocar esperança em deuses feitos de barro, madeira ou metal fundido (cf. Is 44,9-20; 46,1-8).


O Segundo Livro de Isaías nos ensina que a fé verdadeira é esperançosa; ela não se abala diante das vicissitudes da vida, nem desanima diante das pedras encontradas no caminho. A fé é força para viver; ela restaura os ânimos e revigora as energias internas. Por isso, os exilados – mesmo estando em terra estranha e sofrendo a saudade de seu chão e de sua gente – não deve desanimar. Deus – que é fiel – vai dar jeito de reverter aquela situação deprimente, ajudando sua gente a recomeçar. Esse profeta – Segundo Isaías – foi uma figura muito importante para o povo exilado e sua palavra continua atual ainda hoje. Se também nós confiarmos no Senhor – mesmo no sofrimento, como o servo sofredor – não nos faltará a força do Deus libertador ao longo do caminho.