Evangelho DominicalVersículos Bíblicos
 
 
 
 
 

15. A ressurreição de Jesus: Espiritualidade da Páscoa

Ler do Início
22.04.2015 | 5 minutos de leitura
Pe. Paulo Sérgio Carrara- C.Ss.R
Para Pensar
15. A ressurreição de Jesus: Espiritualidade da Páscoa
Deus-Pai: autor da ressurreição de Jesus, seu Filho

A fé pascal nos fala da ação de Deus-Pai em seu Filho Jesus. Uma ação criadora que se manifesta na sua vida entregue através da morte, introduzindo-a em um novo modo de existir. Ao ressuscitar seu Filho, Deus antecipou na história humana algo que se manifestará no fim: a vitória da justiça, a fraternidade universal, a realização plena do Reino. Deus agiu em Jesus, não de maneira milagrosa, mas fazendo Jesus passar da morte à vida, dando-lhe outro modo de existir. Na nossa humanidade, o Filho é glorificado e santificado. Pela ressurreição, Deus confirmou a verdade da vida de seu Filho Jesus, deu-lhe definitividade e, para sempre, o exaltou, fazendo-o Senhor da história e do universo inteiro. A ressurreição de Jesus, vítima inocente, expressa não somente o poder de Deus sobre a morte, mas também o seu poder sobre a injustiça que existe no mundo e mata os inocentes – como Jesus – que propagam o sonho da paz, da igualdade, da liberdade e da fraternidade.


A ressurreição de Jesus: plenitude de sua vida

Ao ressuscitar seu Filho Jesus, Deus Pai o arranca do absurdo e, em Cristo, leva à plenitude o projeto humano. Em Deus ele reencontra a identidade definitiva de seu ser humano e a realização plena de sua história terrena. O próprio sentido da vida e morte de Jesus é dado pela ressurreição, que lhes confere uma validade definitiva. A prática de Jesus foi considerada suspeita e sua morte o desacreditou publicamente. Sua morte representa o fracasso de sua missão. Ao ressuscitá-lo, no entanto, Deus dá razão ao crucificado e o faz vitorioso, mostrando que sua solidariedade com os pecadores e os que sofrem coincide com a vontade de Deus. Jesus não estava, de fato, sozinho. Deus, seu Pai, esteve com Ele, em todos os momentos de sua vida, até à morte. Em Jesus, Deus atuou realmente, ele é de fato o salvador de Deus, aquele que, de verdade, expressou Deus na história.


Quanto à ressurreição do corpo, de acordo com a antropologia bíblica, trata-se da ressurreição do ser humano na integridade de suas relações pessoais e cósmicas, na sua totalidade. A ressurreição não pode ser vista como “sobrevivência da alma”, o que a tornaria algo desvinculado da real experiência humana. Não é, pois, a “alma” de Jesus que ressuscita, mas Jesus mesmo, na totalidade do seu ser e da sua vida. A ressurreição também não se entende como “rematerialização” de um cadáver. A ressurreição de Jesus diz respeito a tudo o que ele foi e realizou na sua vida, na sua identidade mais profunda, e não ao destino de um “cadáver” que simplesmente sobrevive à morte ou de uma “alma” que se separa do corpo.


A ressurreição, o Espírito Santo e a espiritualidade da Páscoa

A ação de Deu Pai em Jesus não foi uma ação a favor somente de Jesus. A ressurreição do Filho de Deus provocou uma mudança radical no relacionamento de Deus com os homens. Para o cristão, discípulo de Jesus, o que importa é realizar na vida o que aconteceu na ressurreição de Jesus. E a ação particular de Deus em Jesus se torna universal no Espírito, porque a salvação que nos trouxe o Crucificado e Ressuscitado atua em nós através do Espírito. Por isto, atualizar o acontecido na ressurreição na força do Espírito é a tarefa dos cristãos de todos os tempos. A história caminha na direção da manifestação total e cósmica da ressurreição. A ação do Pai no Filho continua presente no Espírito. O Espírito havia atuado já na vida do Jesus terreno, de modo que sua ressurreição é ação de Deus mediante o Espírito. O Senhor elevado entrou na vida pneumática de Deus de maneira plena e participa da capacidade de vida, presença e ação de Deus no Espírito e dispõe dele e o envia. A ação de Deus no seu Filho presente no Espírito introduz o mundo em uma nova realidade, na experiência atual da páscoa, porque o Espírito é quem produz hoje os frutos da ressurreição. E seu maior fruto é a própria vida da comunidade dos que creem. A vida da comunidade é o sinal irrevogável da presença do Ressuscitado no mundo através do Espírito. Sua ação remete sempre a Cristo, à sua vida, morte e ressurreição. É o Espírito que torna a ação de Cristo presente no mundo.


Os cristãos, no seu batismo, são introduzidos no mistério pascal de Cristo, morrem e ressuscitam com Cristo. Participam da vitória de Cristo sobre a morte e já estão ressuscitados com Cristo. A vida de Cristo, que é a vida de Deus, nos é comunicada pelo Espírito. Ao longo de nossa vida, somos chamados a atuar a vitória de Jesus e o melhor modo de fazê-lo é assumindo “a causa de Jesus”, o seu “sonho” para a humanidade, que se chama “Reino de Deus”, a utopia de paz, justiça e fraternidade que Jesus plantou no coração do mundo. A adesão subjetiva e personalizada a Jesus Ressuscitado é sempre necessária, mas ela permanece incompleta se não inclui os outros, sobretudo os mais pobres e abandonados. A ação do Espírito continua, no mundo, a ação de Deus-Pai sobre Jesus através dos cristãos, que foram incorporados a Cristo no batismo.Viver como ressuscitados exige, pois, compromisso pessoal com Jesus e com a transformação do mundo em “Reino de Deus”.