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8. Voltar a amar o Natal

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24.12.2015 | 5 minutos de leitura
Pe. Luiz Antônio
Diversos
8. Voltar a amar o Natal

Cada vez mais encontramos pessoas que afirmam, sem nenhum pejo ou receio, que não gostam do Natal. Em 1957, um conto natalino politicamente incorreto, chamado “O Grinch”, deu voz ao desgosto e enfado diante do Natal. Nele o protagonista é uma criatura mítica que declaradamente odeia o Natal e se empenha com todas as suas forças pela eliminação da detestada festa. Posteriormente, no ano 2000, o conto foi transformado em bem sucedida produção cinematográfica. Certo é que a antipatia do Grinch é compartilhada por muitas pessoas na vida real. De fato, o Natal tem se tornado uma festa pesada e aborrecida em vários sentidos.


Existem razões para detestar o Natal? Dependendo do que se entende por Natal há razões de sobra. Numa inteligente análise do filme[1], encontramos várias delas: “o melhor do filme é que ele joga na nossa cara, de forma satírica, os absurdos que nos rodeiam na época das festas de fim de ano e de como o verdadeiro significado do Natal é negligenciado pela maioria. É uma crítica ao nosso consumismo desenfreado, ao exagero de comidas, a ficar horas em filas para comprar presentes e a tantas outras bobagens sem lógica que fazemos em prol do “espírito natalino”. [...]. Resumidamente, os absurdos natalinos retratados no filme são: os quilos de comida que enfiamos goela abaixo; as árvores do tamanho de prédios; o consumismo que nos leva a comprar o que não precisamos e iremos destinar em breve ao lixão; o carro novo com que o prefeito de Quemlandia presenteia sua noiva, fornecido generosamente pelos contribuintes (tá bom, esse absurdo acontece durante todo o ano). Falando sério, o que isso tudo tem a ver com comemorar o nascimento de Jesus? Talvez todos nós precisemos de vez em quando que um carinha estranho e maluco como o Grinch roube todos os nossos presentes, nossa ceia e símbolos do Natal (como árvores e pisca-piscas) para que possamos nos lembrar do verdadeiro significado dessa data e, é claro, do aniversariante”.


É possível voltar a amar o Natal? É claro que sim!Amar não simplesmente as circunstâncias do Natal, mas o seu sentido profundo e o que ele pode despertar em nós. Indo ainda mais longe: só se volta a amar o Natal quando se volta a amar Jesus, a razão de ser dessa comemoração.


O amor a Jesus não é fruto do acaso, não é mera sintonia com os ideais dele ou sentimento de simpatia por sua figura histórica. Esse amor é dom de Deus. É descoberta que “nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Um amor gratuito e generoso, a ponto de não colocar como condição para sermos amados por Ele, a nossa presumida bondade ou fidelidade.


No longínquo século XIII, São Francisco de Assis percebeu que seus contemporâneos estavam perigosamente se distanciando do verdadeiro Natal. Inspirado pela fé, montou em Greccio (Itália) o primeiro presépio. Sua esperança era de que as pessoas, contemplando a representação cênica do nascimento do Senhor, se deixassem enternecer pelo Verbo que se fez carne. Se voltassem a amar Jesus, seria novamente Natal.


A contemplação orante do nascimento de Cristo é a porta de entrada para experiência do seu amor por nós. Ao longo dos séculos, homens e mulheres de fé, se aproximaram desse mistério de amor. Causa um grande impacto o que lemos nos relatos de suas experiências. Tais palavras podem ser acolhidas por nós como um convite a mergulhar na mesma contemplação: “Não posso temer um Deus que se fez tão pequeno por mim” (Santa Teresinha), “fique bem perto do presépio e escute o Menino Jesus dizer: ‘estou aqui porque amo você” (São Francisco de Sales), “Deus ama tanto o homem como se ele fosse o seu ‘deus’ e como não pudesse ser feliz sem ele” (São Tomás de Aquino), “Deus quis – verdadeiramente – tornar-se um de nós” (Max Lucado), “creiam que Cristo nasceu para vocês, e que o nascimento aconteceu para o bem de vocês. Pois a Escritura Sagrada não afirma apenas: Cristo nasceu, mas diz: nasceu para vocês. Também não afirma apenas: eu anuncio uma alegria, mas diz: eu anuncio uma alegria para vocês. Creiam que Cristo nasceu para vocês” (Martinho Lutero). “Jesus menino é a gramática que nos faz compreender quem é Deus e o que nós devemos ser” (Leonardo Boff), “no Menino de Belém, Deus desce até nossa situação; ele está nos acontecimentos, nas feridas, nas provações, na experiência de nossos pecados. Deus desce para erguer todos os caídos” (D. Orlando Brandes).


É possível amar o Natal. O Amor ultrapassa as luzes e enfeites, pompas e ceias, compras e presentes. Basta deixa-se encontrar pelo Amor que se encarnou na história e veio ao encontro da humanidade sob a forma de criança. De múltiplas formas e com variedade imensa de rostos, esse amor sempre volta, não só no Natal, mas todos os dias. Basta deixar-se encontrar pelo Amor.


[1] http://lounge.obviousmag.org/caos_e_prosa/2014/12/o-grinch---baseado-em-fatos-reais.html