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12. Sabedoria do amor

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18.12.2014 | 4 minutos de leitura
Solange Maria do Carmo
Crônicas
12. Sabedoria do amor

(Ao Frei João Júnior, por ocasião dos seus votos solenes)


“O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo que eu vos tenho dito” (Jo, 14,26)


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
(Camões)


 

Jesus, no Evangelho de João, prometeu que o Espírito Santo nos ensinaria tudo. Tudo? Todas as coisas? Não parece muito? Nós cristãos estamos sempre desejosos de ser ensinados por Deus, guiados por ele. Detestamos andar ao léu, sem saber o rumo certo, como cego às apalpadelas, “crianças, entregues ao sabor das ondas e levadas pelo vento” (Ef 4,16). Queremos a clareza do saber e fugimos obstinadamente da escuridão do não-conhecimento. Mas eis que o conhecimento da fé se dá não a partir de letras, de textos, de línguas, de erudição, de dados enciclopédicos acumulados ou de mistérios ocultos desvendados... Sua única via se dá no amor, que clareia os recônditos do coração, lá onde ninguém pode penetrar a não ser o mistério do Deus-amor.


Se o Espírito nos ensina o que Jesus ensinou aos seus discípulos, não esperemos outra coisa a não ser fazer cada dia a prazerosa e dolorosa lição do amor, na escola do amor. A sabedoria cristã é amar! Tudo o que Jesus ensinou se resume no mandamento do amor. Eis o seu legado: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!” (Jo 15,12). Viver o evangelho não é outra coisa senão amar e amar e amar, sem jamais desistir de tentar outra vez, mesmo quando parece que as forças já se esvaíram e não somos mais capazes de continuar. Qualquer outra tentativa de viver o evangelho seria sabotagem da mais genuína mensagem do Mestre de Nazaré que, com sua própria vida, amou até o fim, entregando-se na cruz. Um amor efetivo, concreto, real, fiel, sem pedir nada em troca... Mas um amor também afetivo, com rosto, com nomes: o nome e o rosto de seus amigos. “Não há amor maior do que dar a vida por seus amigos” (Jo 15,13), disse Jesus. Ou ainda: “Eu não vos chamo servos [...], mas amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). E o que ele ouviu do Pai senão palavras de amor? Com quem ele aprendeu a amar senão com o Pai que tanto o amou? (cf. Jo 15,9).


Mais uma vez, o Santo de Assis tem razão. “Depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém mais me mostrou o que eu deveria saber”, afirmou resoluto Francisco de Assis, “mas o Altíssimo mesmo me revelou que deveria viver conforme o santo evangelho”.Tendo nós recebido irmãos, amigos do coração, não faz sentido buscar qualquer outro ensinamento: o amor é lição para a vida toda; amar até o limite máximo da própria vida doada, como fez Jesus.


Lembremo-nos: o amor ilumina, clareia. Ele mostra os caminhos; orienta as decisões... porque “é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (1Cor 13, 4-7).


Lembremo-nos, pois: viver segundo o santo evangelho é viver o amor! E uma vez chamados a ele, não resistamos; entreguemo-nos confiantes, abandonemo-nos a ele para ser carregados sobre as suas asas.


Terminemos com belo poema de um pobre filho de Francisco, ansioso para seguir os passos de seu Pai, sempre desejoso da sabedoria do amor.


 

Sobre as asas


(João Júnior)


 Quando sobre as asas do amor,

deixa-te, abandona-te, confia-te;

e permita que te leve

por onde ele mesmo quiser.


E a graça de deixar-se conduzir

ensinar-te-á que,

muito maior do que teus sonhos,

teus desejos secretos,

tuas esperas inconfessas,


é a generosidade do amor,

em sua inesgotável capacidade de,

sempre de novo,

te surpreender.