31. Testemunhas do Ressuscitado


O catequista é uma testemunha e não um professor, afirmamos no texto anterior. O professor ensina uma matéria, uma disciplina, um conjunto de conteúdos, transmite um conhecimento acerca de algo; ensina o fazer ou o saber-fazer. E a testemunha fala sobre um evento, sobre algo que viveu, experimentou, experienciou na própria vida, algo que o fez ser quem é. Não fala para transmitir conhecimento (apesar de transmiti-lo), mas para dar a conhecer a experiência vivida que ressignificou sua existência. Então, que evento testemunham os catequistas? O que aconteceu que transformou suas vidas? O que eles provaram, experimentaram, que deu novo significado à sua cotidianidade, tão rasteira e comum a todos os mortais? Eles experimentaram a ressurreição de Jesus: o evento Cristo, o mistério pascal.
Foi o encontro com o Ressuscitado que deu sentido à vida dos primeiros evangelizadores. Muitos dos primeiros anunciadores da Palavra foram apóstolos de Jesus, ou seja, conheceram o Jesus histórico, o Homem de Nazaré. Com ele, viveram dias maravilhosos, experiências impactantes... Comeram e beberam juntos com ele; pescaram peixes e gente! Viajaram, andaram por aldeias, visitaram casas, conheceram pessoas... Viram-no acolher, amar, perdoar, vencer preconceitos, reintegrar os excluídos na sociedade e no sistema religioso. Presenciaram sua generosidade; viram seu trato com os pequeninos... Sentiram na própria pele o que é ser destinatário do amor misericordioso de Deus que o Nazareno dispensava a todos... Ouviram suas palavras; acolheram seus ensinamentos; saborearam sua presença amiga...
Apesar da importância de tudo isso, porém, não foi o contato com o Jesus histórico que transformou a vida desses apóstolos. Durante a vida terrena do Galileu, nem sempre as atitudes de Jesus eram compreendidas por seus seguidores e, não poucas vezes, esses viviam muito distantes dos ensinamentos do Mestre de Nazaré. É só recordar os filhos de Zebedeu querendo o primeiro lugar, Pedro querendo recompensa por ter largado muita coisa em prol do seguimento etc. E, além disso, muita gente conheceu Jesus, caminhou com ele, foi beneficiada por sua presença e nem por isso se tornou depois sua testemunha. E muitos que não o conheceram pessoalmente, como Paulo, Lucas e tantos outros foram testemunhas maravilhosas que anunciaram o evangelho com todo destemor. Acontece que, para evangelizar, o importante é a experiência da ressurreição, o encontro com o Ressuscitado ou o desejo de fazê-lo, o coração sempre aberto para esse evento transformador, e não o contato com o Jesus Histórico.
Certamente, essa afirmação não relativiza a ação do Mestre de Nazaré, sua vida, suas escolhas, sua existência, tirando a objetividade do evento da ressurreição e transferindo-o para o interior da pessoa humana... Nada disso. A morte de Jesus na cruz e sua ressurreição não são um detalhe na sua vida, mas o coroamento de tudo que viveu e ensinou: uma consequência de seu amor à humanidade e de sua fidelidade ao Pai. E sua ressurreição não é fruto de nossa imaginação, mas um evento real, capaz de mudar a existência de muita gente. Deus mesmo, na sua imensa bondade, se dá a nós em Cristo pela ação do Espírito. E isso é transformador. É essa presença que o catequista testemunha: “Não estamos sós, o Ressuscitado caminha conosco”.
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