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30. O CREDO: Creio na Santa Igreja Católica

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08.09.2016 | 8 minutos de leitura
Pe. Paulo Sérgio Carrara- C.Ss.R
Para Pensar
30. O CREDO: Creio na Santa Igreja Católica

A Igreja Católica


O Credo narra a história da salvação, o diálogo salvífico que Deus Pai, Filho e Espírito Santo estabeleceu com o ser humano. O Credo, no entanto, não se limita à história da salvação ancorada na Trindade. Ele manifesta também o surgimento de pessoas crentes que acolhem a salvação de Deus e se tornam sua testemunha na história. No Credo encontramos três protagonistas inseparáveis. O primeiro é o “eu”. Cada cristão professa sua fé na primeira pessoa: Creio. Mas a fé pessoal não surge do nada, mas na Igreja, que a transmite ininterruptamente. O “Eu creio” supõe o “Nós cremos”. Se outros não tivessem crido antes, nós também não poderíamos crer. Nós cremos como e na Igreja. Há, enfim, o terceiro protagonista, que às vezes passa despercebido: a humanidade inteira, porque a ela se destina a salvação. “Não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,11-12).


O crente jamais está sozinho na sua profissão de fé; está sempre inserido numa comunidade sem a qual sua confissão perderia consistência. Na liturgia batismal, toda a comunidade responde à pergunta do presidente da celebração: “Credes? Nós cremos”. A confissão de fé atesta a pertença à comunidade dos crentes, à Igreja. Por isso o Credo traz a confissão de fé “na Igreja”. Isso não quer dizer que nossa fé seja quaternária: creio no Pai, no Filho, no Espírito Santo e na Igreja.  É muito diferente crer em Deus e crer na Igreja, porque essa não ocupa o lugar de Deus, não é absoluta. Creio na Santa Igreja Católica significa que “eu creio em comunhão com a Igreja e eu creio o que a Igreja crê”. Creio na Igreja enquanto sacramento da salvação e do Reino de Deus.


Em Jesus, Deus se fez presente no mundo como seu salvador e libertador. A Igreja é extensão do mistério de Cristo, mantendo na história a presença salvadora de Jesus. A graça de Cristo está na Igreja, enquanto presença social e histórica da autocomunicação salvífica de Deus em Cristo e no Espírito. A Igreja nasce no mistério pascal, é fruto da ressurreição de Cristo que se entrega ao Pai por nós e envia o Espírito Santo sobre os homens para conservá-los unidos na fé e no testemunho do seu Reino (cf. Jo 20,19-23; At 2). O Credo une o Espírito à Igreja: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica”. A Igreja surge como o lugar a partir do qual o Espírito age no mundo e na história. Cabe-lhe reunir homens e mulheres ao redor do Ressuscitado. O Espírito, poder de Deus em ação, convoca os seres humanos para viverem da vida do Ressuscitado. Ele age na Igreja para fazer transparecer no mundo o sonho do Reino: a paternidade de Deus em relação aos homens que ele salva em seu Filho Jesus. O Espírito faz a Igreja antecipar na história a fraternidade que Deus deseja para homens e mulheres, seus filhos muito amados. Assim, ela se torna “ícone da Trindade”, tornando visível a comunhão do Deus amor. Não por acaso o Credo é chamado “símbolo”, cujo sentido etimológico significa “reunir”, “ajuntar”, “agrupar”, “aproximar”. O Credo reúne, num só texto, as afirmações essenciais da fé. Mas também reúne os cristãos pelo sinal da cruz, pela oração, a partilha eucarística, a leitura das Escrituras, os sacramentos, os ministérios. Só proclama o Credo quem recebeu o Espírito e pertence à comunidade dos cristãos. Aliás, ele cria comunhão entre os cristãos de ontem e de hoje, entre os vivos e os mortos.


Proclamamos o Credo na e como Igreja. Por isso ele pertence à ação litúrgica. Não seria correto separá-lo do espaço comunitário de sua proclamação. Quem compreende o sentido profundo do Credo se inicia na vida da comunidade cristã. E, quem se inicia na vida da comunidade cristã, proclama com ela o Credo. Mas quem proclama o Credo não deve se esquecer de seu terceiro protagonista, a humanidade inteira. Este “nós” da comunidade humana se encontra em duas partes do Credo Niceno: “E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo”. Por nós significa por todos os homens, não só para os cristãos. Outra afirmação: “por nós foi crucificado”. O Credo atesta um vínculo de solidariedade com toda a humanidade e uma esperança universal de salvação. Ele dá voz à humanidade inteira. O sujeito que confessa sua fé pelo Credo o faz, em certo sentido,em nome da humanidade; em união com ela, confessa a salvação de Deus para todos.


A salvação a qual todos são chamados e que se manifestará no fim, os crentes a reconhecem desde agora, antecipadamente. Os cristãos não se compreendem como a única família de Deus. A Igreja se configura como aquela parte da humanidade consciente de sua filiação divina por integração a Cristo pelo Espírito. Mas todos os seres humanos são filhos de Deus e a salvação da qual a Igreja é sacramento se encontra nas outras igrejas cristãs, que também pertencem a Cristo, e, ainda, em outras tradições religiosas. Se Deus só quisesse a salvação dos cristãos não seria um Deus de amor e misericórdia. O Concílio Vaticano II reconheceu essa verdade que mudou a relação da Igreja com outras igrejas cristãs e outras tradições religiosas(NA 1; AG 7, 9; LG 16; GS 22).


Igreja una, santa, católica e apostólica


O credo mais longo acrescenta estes quatro atributos à Igreja. Ela é una e católica, ou seja, a mesma Igreja de Cristo se encontra espalhada pelo mundo. Ele quer salvar a humanidade e a Igreja se espalha como sacramento dessa salvação. A pequena comunidade a que cada cristão pertence faz parte da única Igreja católica, porque ela é universal. Nela há o ministério petrino, o ministério do Papa que preside toda a Igreja na caridade (cf. Jo 21,17; Mt 28,18-20). Ele é seu pastor supremo, símbolo de sua unidade. Em cada diocese há um bispo que preside aquela Igreja particular; em cada paróquia, um presbítero. Há outros ministérios na comunidade cristã que a constroem e a sustentam. O batismo postula igualdade fundamental entre todos os membros da Igreja. Os ministérios são funcionais, da ordem do serviço. O Papa é responsável pela unidade de todos os ministérios, como sucessor de Pedro. A unidade da Igreja não significa, no entanto, uniformidade. Tem mais a ver com comunhão. A sã pluralidade faz parte da Igreja e contribui para que ela seja, de fato, católica. O Espírito atua criando comunhão e não eliminando as singularidades. Ele faz a Igreja ser a mesma para além de fronteiras nacionais, políticas, raciais, sociais, culturais, econômicas. Jesus é seu único Senhor e Salvador; seu desejo inclui a humanidade inteira: “Que todos sejam um” (Jo 17,21).


A Igreja é santa, não porque seus membros sejam santos. Ao contrário, desde o início houve a consciência de que a Igreja é santa e pecadora. Também não podemos pensar que na Igreja há os santos e os pecadores, dividindo-a em dois blocos: o bloco dos bons e o dos maus. Todos somos, em alguma medida, pecadores e necessitados de conversão. A santidade da Igreja vem de sua pertença a Deus que a quer como sacramento da salvação realizada por seu Filho Jesus. A presença de Jesus santifica a Igreja e o Espírito santifica os cristãos fazendo-os participar da santidade de Jesus. Santidade significa acolhida da graça de Deus. A graça é o Espírito; e o conteúdo da graça é Jesus, o Santo. A Igreja reúne pecadores perdoados, agraciados pela misericórdia de Deus que não se julgam proprietários da graça, mas reconhecem tê-la recebido como puro dom da bondade divina.


A Igreja é apostólica, o que quer dizer que nasceu do testemunho dos apóstolos, os quais foram chamados por Jesus para segui-lo e participar de sua missão. Apóstolos que testemunham a vida e a ressurreição de Jesus (cf. At 1,15-26). A Igreja crê no que os apóstolos disseram de Jesus: que ele nasceu de Maria, já na idade adulta se tornou o profeta do Reino de Deus, foi condenado à morte na cruz pelas autoridades judaicas e romanas, morreu e foi ressuscitado pelo Pai no poder do Espírito Santo. Esse mistério pascal de Jesus desponta como o clímax da história da revelação e salvação de Deus. A Igreja jamais abandona os ensinamentos dos apóstolos. A Igreja apenas os interpreta para os tempos de hoje. A revelação e a salvação continuam na Igreja e no mundo por obra do Espírito, mas sempre dependente da revelação testemunhada pelos apóstolos, constitutiva para a fé cristã. Os apóstolos são, assim, os alicerces da Igreja por sua pregação e testemunho singular da vida, morte e ressurreição de Jesus.